Mais um daqueles dias se aproxima. Daqueles que aterrorizam boa parte das mulheres, saborizado pela forte cor vermelha. Não, não é mais um ciclo menstrual . É o extorquidor dia dos namorados. A data, assustadora, vai se aproximando, e o medo de vê-la chegar estando sozinha é eminente. Isso para as solteiras, claro, pois, se fevereiro é período de término de relacionamento, em junho o ar tem cheiro de paixão.
Como mulher, solteira, que passará o dia dos namorados sem namorado pelo terceiro ano consecutivo, e, sobretudo, com angústias diversas, de diferentes cores, mas que dentre essas não estão, definitivamente, a de não estar namorando, me suscitam algumas inquietações.
O medo que importuna é a solidão? O medo é pontual? Ou se dá em todos os outros dias, mas se manifesta com maior intensidade nesse período? Mas, medo de que, afinal?
O primeiro decênio do sexto mês do ano é perturbador. As redes sociais se infestam pelo desespero da solidão. Um período quase desoxigenador com manifestações em torno do famigerado dia que, na verdade, não passa de opressão simbólica que marca um ritual entre o limiar da possibilidade de estar na condição de ser social dentro da normalidade, possuindo um companheiro com quem futuramente se constituirá uma família, ou o de integrar a ala das mal amadas, que, incompetentes para ter um macho ao seu lado – nessa visão eles nunca estariam ao lado – ficarão para titia.
Pois bem, se assim, não acho nada mal ser tia.
Comparando os últimos anos de minha experiência, entre aqueles em que estive acompanhada no dia dos namorados àqueles só, não resta dúvida que prefiro os últimos. E nada contra meu último companheiro, muito pelo contrário, uma pessoa dessas de que se deve ter ao lado. A questão não é necessariamente a companhia, mas como nós mulheres nos colocamos diante de uma relação e, principalmente, perante a ausência desta.
Não sou favorável ao fim da instituição família, não se trata disso. Sou favorável à independência da mulher. À sua emancipação das amarras de valores sociais machistas, que sem empoderamento da conscientização vamos perpetuando.
Nesta data sou favorável às solteiras, mas as solteiras livres. Ser solteira é ser solta. Ser solteira é ser dona de si mesma.
Em todas as outras datas sou favorável às mulheres, as solteiras e as acompanhadas, mas às mulheres livres.
Quero um companheiro, desses de estar ao lado, mas de preferência depois do dia 12.
O importante é ser feliz todos os dias, o importante é ser feliz apesar de tudo.
ResponderExcluirSer mulher e ser feliz sendo solteira é um ato revolucionário, em uma sociedade que ainda impõe sobre a mulher juízos e prejuízos tão seculares que alguns deles já são considerados normais, ainda mantendo o absurdo de outrora.