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quinta-feira, 6 de setembro de 2012

O mundo

Nem se estivesse na Ásia
Passaria minha azia
Passa e ria de alegria
Eu passo e rio de agonia
Rio que corta de tanta hipocrisia.
Provoca tanta dor
Evoca tanto amor
Pra si
Me invoca.
Fingidor de olhos tapados
Barriga satisfeita
Já está feito
E feio.
Ludibria o próprio olhar
Mas não engana
Acha que é cego
Não passa de um C antes do ego.
Abuso irracional
Uso circunstancial
De gentes
Sementes sem frutos
Sem futuros
Estragados
Estampados
Estampidos
Não ouço mais ruídos
Agora já são uivos
Açoitados.
O cheiro do pó
Como uma fumaça do incêndio
Invade
Plana no ar
Com um plano de cessar
O mundo.

domingo, 17 de junho de 2012

Sou sendo você

Esqueci-me de dizer que sou seu antônimo
Mas meu lado só se opõe a sua distância
E sua diferença não me torna indiferente
A menos que diferencie meus olhos
E de oposto passo a ser espelho
Que minimiza a mímica de seu gesto
Da sua boca
E reflito
Aflita
Somente
Em prisma
O que sinto
Sair de ti

domingo, 10 de junho de 2012

Ser solteira

Mais um daqueles dias se aproxima. Daqueles que aterrorizam boa parte das mulheres, saborizado pela forte cor vermelha. Não, não é mais um ciclo menstrual . É o extorquidor dia dos namorados. A data, assustadora, vai se aproximando, e o medo de vê-la chegar estando sozinha é eminente. Isso para as solteiras, claro, pois, se fevereiro é período de término de relacionamento, em junho o ar tem cheiro de paixão.
Como mulher, solteira, que passará o dia dos namorados sem namorado pelo terceiro ano consecutivo, e, sobretudo, com angústias diversas, de diferentes cores, mas que dentre essas não estão, definitivamente, a de não estar namorando, me suscitam algumas inquietações.
O medo que importuna é a solidão? O medo é pontual? Ou se dá em todos os outros dias, mas se manifesta com maior intensidade nesse período? Mas, medo de que, afinal?
O primeiro decênio do sexto mês do ano é perturbador. As redes sociais se infestam pelo desespero da solidão. Um período quase desoxigenador com manifestações em torno do famigerado dia que, na verdade, não passa de opressão simbólica que marca um ritual entre o limiar da possibilidade de estar na condição de ser social dentro da normalidade, possuindo um companheiro com quem futuramente se constituirá uma família, ou o de integrar a ala das mal amadas, que, incompetentes para ter um macho ao seu lado – nessa visão eles nunca estariam ao lado – ficarão para titia.
Pois bem, se assim, não acho nada mal ser tia.
Comparando os últimos anos de minha experiência, entre aqueles em que estive acompanhada no dia dos namorados àqueles só, não resta dúvida que prefiro os últimos. E nada contra meu último companheiro, muito pelo contrário, uma pessoa dessas de que se deve ter ao lado. A questão não é necessariamente a companhia, mas como nós mulheres nos colocamos diante de uma relação e, principalmente, perante a ausência desta.
Não sou favorável ao fim da instituição família, não se trata disso. Sou favorável à independência da mulher. À sua emancipação das amarras de valores sociais machistas, que sem empoderamento da conscientização vamos perpetuando.
Nesta data sou favorável às solteiras, mas as solteiras livres. Ser solteira é ser solta. Ser solteira é ser dona de si mesma. Em todas as outras datas sou favorável às mulheres, as solteiras e as acompanhadas, mas às mulheres livres.
Quero um companheiro, desses de estar ao lado, mas de preferência depois do dia 12.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Café a dois

Uma xícara de café
Para celebrar a ausência
Que saboriza o gosto da reticência
Que desmudece
Que cessa de calar

Abra-se às palavras
Abrace as palavras

Entregando corpo
Alma
Borra
Que borra o papel
Tintaliza-o com vinho
Tinto
Não branco

Percorre o silêncio
Da nova conversa
Versa comigo

Angústia latejante
Do mesmo lugar
Do mesmo ponto
Do mesmo lugar
Do mesmo ponto
E vírgula

Então continua
Continuamente
Nua

domingo, 8 de abril de 2012

Roda Gigante

Depois do vidro há um vento
Latejante
Emudecedor, entorpecedor
Que faz as folhas trançarem
E elas dançam ao seu som
Som da voz que sai ao telefone
Numa canção de amor
O vento não o trás pra perto
Mesmo nas palavras escritas
Poetizadas lucidamente
Embaraçadas ludibriadamente
Causando vertigens
Gira a cabeça
Numa roda gigante
Grande
E os bancos, quando se encontram?

quinta-feira, 15 de março de 2012

Samba em flor

Porque meu choro é meu samba
E não me lembro de outro bamba
Que me faça esquecer...

E a rosa que abre no outono
Tem efeito em meu sono
De sonhar só com você...

Mas se de repente eu percebo
Que outra rosa lhe é perene
Desabrocho de teu colo
Sopro o vento, te consolo
E meu adeus é permanente...

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Depois do fora...

Fora de mim nem mesmo meu coração
Quiçá meu desejo
Entregue proscritamente
Exilado a você
Porque não existe união
Sem antes distante
E dialeticamente estamos...
De dentro pra fora
De fora pra... ‘lgum lugar
Mesmo que lugar algum
Mas conduzidos por Ogum
Por estradas senis
Enferrujadas com o tempo de palavras velhas
Inteligíveis de significado
Solúveis em sentimentos
Rejuvenescidas por vontades
Medida imensurável
Tornando-se
Um éon de prazer...

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Seu tempo, meu

Faço um solo para descobrir seu tempo
Mas minhas têmporas não te escutam
Segredos espargidos em ladrilhos quebrados
Estraçalhados
Querendo deixar de existir

Burila minhas palavras com seu toque
Que estão longe de mim
De meu corpo
E sons ontem ecoados em couro batido
Agora me acuam

Perco-me no retumbe
Quando não me retrucas
Tento ser seu metrônomo
Mostrar-te que seu tempo é o mesmo que o meu
Mas onde estás?

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Vôo... vou... (ex)pero

‎(In)scrição em linhas
Mãos de pássaro engavetado
(Ex)crevo o mundo
Onde a lei é liberdade

(In)ternamente, eternidade
(Ex)ternamente, rugosidade

Fuga do topo
Do ventre
Fogueia
Em chama de voz
Chama...

Ouço
Troço
E troco-lhe
Pelo lápis

Pelos que não encobrem o calor
Pêlos que não encobrem o calor
Do corpo que arde
(ex) pelem
Minha pele

O sentido é fora
De série
Do sério
Do tempo
Do vento
De mim

Lamento...